10/01/2009

ALEISTER CROWLEY- o legado

Não creio que Crowley tivesse sido um homem mau, como o epíteto ‘The Wickedest Man in the World’ (criado pelo jornal “John Bull”) sugere. Penso que foi, no seu pior, muito egoísta e muito estúpido (com péssimas consequências), mas sem cair no diabolismo cinemático que os ‘media’ patentearam. Excepto na aproximação que faz ao individualismo filosófico (antecipando o Objectivismo cunhado pela escritora Ayn Rand) a doutrina thelémica nada tem de satânico, ou de satanista. Em primeiro lugar, tal como se encontra descrita por Crowley, trata-se de um sistema iniciático, logo procura transmitir conhecimentos ocultos através de mensagens e rituais que namoriscam com o sobrenatural. Em seguida, o trajecto que o adepto precisa de cumprir nesse caminho iniciático é ferozmente demolidor do ego. E, para terminar, a disciplina de Thelema ainda incita o indivíduo na direcção de uma espécie de consciência social. Para isso concorreram as fontes de inspiração de Crowley: proto-anarquistas como François Rabelais e Jonathan Swift, mas também teóricos anarquistas/socialistas como Gracchus Babeuf, Louis Blanquis e Pierre Proudhon. É preciso lembrar que “O Livro da Lei” foi recebido por diversos leitores como sendo um livro comunista, e que Mussolini expulsou Crowley de Itália, alegando que a Abadia de Thelema em Cefalù, era um organismo comunista. É confuso constatar que Crowley, inglês imperialista, manteve uma relação calorosa com ideias revolucionárias desta estirpe. Não é, pois, sensato ler o trabalho da auto- denominada Besta do Apocalipse, para quem o ‘fin de siécle’ era todos os dias, sem ter em mente o sentido de humor provocante e escatológico que o atravessa. E sobre um autor cuja vida é impossível dissolver da obra, a exegese biográfica deve efectuar-se sob a mesma iluminação. A encadernação da edição do livro “Moonchild”, de Aleister Crowley, que a Sphere Books publicou na colecção “The Dennis Wheatley Library of the Occult”, em 1974, é (além de uma obraprima trash), bastante conveniente, já que um observador atento não pode deixar de ver Ra-Hoor-Khuit, ou Harpócrates, a versão infante de Hórus, sendo presenteado com a herança de Hadit, o embaixador do Tempo do Pai no segundo capítulo d’“O Livro da Lei”. David Soares À parte os movimentos mágicos e iniciáticos, Crowley também exerceu enorme influência sobre o trabalho de vários artistas, compositores e conjunto musicais; famosos grupos e cantores de rock como Black Sabbath, Led Zeppelin (Jimmy Page, guitarrista do Led, inclusive comprou o famoso "Castelo" de Boleskine, onde Crowley morou por alguns anos), Rolling Stones, The Clash, Beatles (no álbum Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band, sua fotografia aparece como "uma das pessoas que gostamos"), Iron Maiden, Ozzy Osbourne (que compôs o clássico "Mr. Crowley"), entre tantos outros, além de artistas do quilate de H. R. Giger, Kenneth Anger, David Bowie, etc., têm no exemplo de 666 uma fonte de inspiração para seus trabalhos e vidas. Também na literatura encontramos vários romances que foram concebidos utilizando a imagem cultivada por Crowley, como exemplo: The Magician de W. Somerset Maugham (o mesmo autor de O Fio da Navalha), The Goat-Food God de Dion Fortune, Stranger in a Strange Land de Robert A. Heinlein, etc. Não se pode deixar de mencionar o meio artístico brasileiro, que teve no memorável Raul Seixas, o grande arauto da mensagem de Aleister Crowley. Em especial as músicas A Lei e Sociedade Alternativa (ambas de Raul Seixas e Paulo Coelho), que têm como base Liber OZ. Outras notáveis obras de sua autoria são A Maçã, Tente Outra Vez (estas em parceria com Marcelo Motta e Paulo Coelho) além de muitas outras canções do maluco beleza que apresentam, de um modo bem particular ao Raul, a Lei de Thelema.

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