16/01/2010

THE CLASH - LONDON CALLING


Nas listas de efemérides do rock, há sempre um facto para se comemorar. Este ano, por exemplo, são vários: as cinco décadas do "Kind of blue" de Miles Davis, os 15 aniversários do "Definitely maybe", dos Oasis.

Enquanto o punk americano sabia quem eram seus ancestrais (os punks Ramones amavam surf music e bubblegum, os Talking Heads eram art-school punk, os Blondie um grupo do inicio do movimento punk/new wave, os Feelies recitavam Beatles, Modern Lovers e Velvet Underground, os Television urbanizavam a guitarra psicadélica), a versão britânica do surto de rebeldia juvenil que tomou o planeta de assalto nos anos 70 faziam questão de mostrar o quanto diferente eles eram de tudo que havia vindo antes. A primeira onda de punk da Inglaterra é grotesca, mal tocada, primitiva: Sham 69, X-Ray Specs, Damned, 999.

Os Sex Pistols vendiam-se como perigosos anarquistas que cuspiam no sistema. Os Clash, surgiram na esteira do barulho provocado pela banda de Johnny Rotten e Steve Jones, e queriam muito mais-sonhavam derrubar o sistema inteiro com as guitarras "proletárias" de Mick Jones e Joe Strummer.
Como um quinteto, eles entraram na primeira tourné dos Sex Pistols pela Inglaterra em 1976, a lendária Anarchy in the UK Tour.

O título do disco deixava clara as intenções incendiárias da banda: "London calling" era o nome de um programa de rádio que a BBC londrina transmitia durante a resistência britânica na Segunda Guerra Mundial. Tudo a ver com os Clash, uma atitude de de fora-da-lei e diziam fazer música de guerrilha (discos posteriores, "Sandinista" e "Combat rock", foram ainda mais explícitos).

Falavam de problemas mundiais, de crises internacionais e dos oprimidos em geral. Musicalmente, o reggae libertava-os dos padrões estéticos tradicionais do punk. Por um lado, a influência latina e africana deixava-os confortáveis com as variantes do ritmo. Por outro, inspiravam-se na soul e nos blues que os do reggae surrupiaram dos EUA para transformar o ska em rock steady. E finalmente o dub mostrou que não há limites se o assunto é experimentação em estúdio.

Tinham fama de intratáveis e irascíveis, embora alguns fãs levantassem dúvidas sobre a autenticidade da revolta de Strummer, não era suficiente pobre para ser punk,(como se os punks tivessem que ser pobres ou ricos!!) e até mesmo sobre o sotaque de Jones. Para domá-los no estúdio, foi convocado o velho arruaceiro Guy Stevens, conhecido por ter "descoberto" os The Who nos anos 60, dos Mott the Hopple, e pelo estranho hábito de destruir propriedades.

Stevens incentivou a banda a procurar mais "honestidade" do que apuro técnico na execução das 19 faixas de "London calling", que foi lançado como álbum duplo a 14 de Dezembro de 1979 - pelo preço de um disco, como convinha aos seus ideais "revolucionários"

Fêz 30 anos sobre a publicação original de "London calling". A reedição London Calling: 30th Anniversary Legacy Edition, inclui um DVD com um documentário The Last Testament; The Making of London Calling, filmagens caseiras da gravação do álbum e três vídeos "London Calling", "Train In Vain" e "Clampdown".

O quarteto inglês realizoua a sua maior virtude: capacidade de construir em canções de três minutos, melodia, letras assertivas, e soluções rítmicas imbatíveis.

Na faixa-título “London Calling” Strummer berra no início da música “Londres chama as cidades distantes/ Agora que a guerra começou e a batalha vem aí”, Joe canta sobre uma Londres decadente, mas de outro ponto de vista. Se antes gritava London’s Burning como se comemorasse o caos que é o inferno, agora assiste a tudo friamente, sem emoção: “A era glacial está vindo/ O sol se aproxima/ Máquinas parando, o trigo cresce magro/ Um erro nuclear, mas eu não tenho medo/ Porque Londres afunda e eu vivo à margem”. A mensagem é simples, mas descrita de forma apocalíptica e fatal.

No disco há canções inesqueciveis, "Hateful", "Rudie can't fail", "The right profile", "Lost in the supermarket", "The guns of Brixton", "The card cheat" ou "I'm not down", e “Spanish Bombs” nos leva à Guerra Civil espanhola, numa das melhores músicas do disco, com vocal de Joe Strummer, a faixa descreve um cenário em que as forças militares do governo espanhol (que deram um golpe liderado pelo General Franco em 1936) aniquilavam os rebeldes anarquistas em fuzilamentos na praça pública. Canta sobre os “buracos de bala nas paredes do cemitério”, “o exército esfarrapado consertando baionetas para lutar em outro front” e “os carros pretos da Guardia Civil”, Mick Jones declara-se apaixonado pela revolução que persegue: “Yo te quiero y finito/ yo te querda, oh, mi corazón!”.

O disco termina com “Revolution Rock”, um reggae de celebração ao punk rock. “Todo mundo destrua as cadeiras e dance neste ritmo novo/ Esta música aqui abala nações/ Esta música aqui causa sensação/ Diga à sua mãe, diga ao seu pai/ Tudo vai ficar bem/ Você sente? Não o ignore/ Vai ficar bem”.


Com o auxílio do teclista Mickey Gallagher(tocava nos Blockheads, com Ian Dury) e de uma equipa de metais, o disco é um manifesto de inquietação e exemplo de rock, pop, jazz, rockabilly, reggae e ska.

Não falta a inspiração da capa, nem a versão "Brand new Cadillac", tema intemporal de Vince Taylor.
A capa entrou para a história - cita graficamente o disco de estreia de Elvis Presley. No lugar de um galã, porém, o que se vê é uma foto desfocada de Simonon um segundo antes de despedaçar seu baixo num show em Nova York, em 1979.

Os Clash gravaram mais um bom LP- "Sandinista!" e os sofriveis "Combat rock" - e ("Cut the crap"), com o qual encerraram actividades. “Police & Thieves”, de Junior Murvin, foi um dos seus primeiros singles, e “Complete Control” foi produzido por Lee “Scratch” Perry.

Sem comentários:

Enviar um comentário