27/12/2008

DANÇA CONTEMPORANEA - 2008

DANÇA Escolhas de Luísa Roubaud, Paula Varanda e Tiago Bartolomeu Costa 6. Coisas Marvilhosas De Tiago Guedes. Culturgest Tiago Guedes arriscou inspirar-se num retrato ultrapassado do antigo Egipto, contrariando uma tendência vigente para censurar o exotismo e a ocidentalização. Fez uma dança silenciosa mas comunicativa, vistosa porém comedida, que evolui com a mesma continuidade singela da luz do sol ao longo do dia, desenvolvendo vocabulário original a partir de posturas corporais e ícones visuais óbvios. Foi uma peça polémica mas coerente, que traçou com elegância uma visão pessimista da humanidade a caminho da extinção. P.V. 7. De mim não posso fugir, paciência! De Tânia Carvalho. Espaço do Tempo Prosseguindo uma pesquisa cada vez mais certeira na ampliação dos territórios comuns à música e à dança, a coreógrafa Tânia Carvalho fez desta peça um brilhante exercício de composição estilística onde os cinco corpos e as notas saídas do piano convergiam num só plano. A persistência discursiva de Tânia Carvalho, aliada a uma clareza na individualização de uma genética contemporânea, teve aqui a oportunidade certa para a afirmação da sua voz como das mais vivas da cena internacional. T.B.C. 8. Nefes De Pina Bausch CCB Longe vai o tempo em que Pina Bausch gerava controvérsia. A grande senhora da dança-teatro europeia é hoje um clássico e faz parte do "mainstream". Mas nada disto retira fulgor a "Nefes" ("respiração", em turco), obra resplandecente e voluptuosa, inspirada numa Istambul que nos foi devolvida sem tensões religiosas ou políticas, através de um olhar que segue a vida que corre, para além da ameaça ou do conflito. Com assombro (sempre) renovado, a peça conduziu-nos pelas habituais sucessões de cenas, onde alternavam a argúcia exímia e a beleza sufocante, e onde - raridade na dança europeia actual - a dramaturgia deixava respirar a coreografia. L.R. 9. Respira De Aldara Bizarro. Auditório Fernando Lopes Graça Sessenta e cinco alunos de Cascais, Guimarães e Torres Novas trabalharam com sete artistas para desenvolver vídeo, figurinos e dança, reunidos numa peça que primou pela clareza da estrutura, criatividade das soluções, pertinência dos conteúdos e eficácia na sua transmissão. O espectáculo despertou uma sensação comovente de comunhão e ascensão e provou ser possível e produtivo conciliar objectivos artísticos com objectivos de sensibilização de púbicos e de valorização pessoal e social. P.V. 10. Tempo 76 De Mathilde Monnier. Culturgest Mathilde Monnier tem vindo a intensificar uma reflexão sobre a processos de ficcionalização do corpo a partir de estruturas frásicas exteriores a este. A extrema beleza das suas peças reside nesta ambiguidade discursiva. Ao celebrar a relação de forças entre movimento e música, insistindo agora na noção de uníssono, recuperou lógicas narrativas devedoras de uma ancestralidade clássica, ao mesmo tempo que rasgava novos territórios para a compreensão do movimento enquanto entidade absorvente e maniqueísta. T.B.C.

Sem comentários:

Enviar um comentário