15/11/2008

MEMÓRIAS DE MATOSINHOS

Memória de outras épocas O Teatro Constantino Nery foi construído numa época em que a existência de uma casa de espectáculos era considerada mais do que um equipamento de lazer, uma verdadeira marca da civilização. A inauguração foi no dia 10 de Junho de 1906. Construído por iniciativa de Emidio José Ló Ferreira e baptizado com o nome do então governador do estado brasileiro de Manaus, o que evidencia as fortíssimas relações que na época havia entre Matosinhos e o Brasil, o Constantino Nery foi, ao longo de oito décadas, a grande casa de espectáculos de Matosinhos. Em Matosinhos havia, nessa altura, uma forte tradição teatral patente, sobretudo, no larguíssimo número de grupos de teatro amador existentes. Particularmente na época balnear, altura em que Matosinhos e Leça se animavam com numerosos veraneantes que aqui acorriam para os banhos de mar, multiplicavam-se os espectáculos teatrais. Foi neste teatro que se realizaram, logo em Novembro de 1906, as primeiras exibições cinematográficas e que consistiam essencialmente nos chamados filmes panorâmicos, ou seja, pequenos documentários. A partir da década de 30, dá-se uma expansão significativa do cinema em Matosinhos com um considerável movimento de abertura de novas salas em vários locais do concelho. Em 1937, a empresa Sousa &Filho, que era proprietária do Constantino Nery, passa também a explorar um cinema ao ar livre situado nos jardins da Confraria do Senhor de Matosinhos, abrindo, ainda, em 1948 um novo cinema ao ar livre na Rua Brito Capelo com uma lotação de 360 lugares. É, principalmente, durante as décadas de 50 e 60 que esta sala vive o seu período áureo com uma programação cinematográfica regular e diversificada onde se destacam os grandes êxitos do cinema da época, nomeadamente os filmes de aventuras de origem americana e os dramas históricos italianos. No entanto, a partir dos anos 70, a falta de filmes em estreias, uma vez que eram apenas exibidas reposições, e a crescente degradação da sala que conduziu mesmo ao seu encerramento temporário por falta de condições de segurança, levaram ao progressivo afastamento do público que passou a preferir cinemas da cidade do Porto. Na década de 80 era já apenas uma pálida sombra da grandiosa casa de espectáculos inaugurada no início do século. A incapacidade em modificar esta situação, levou a que esta sala entrasse num processo progressivo de degradação e decadência que culminaram no seu encerramento e abandono. Continuou, no entanto, na memória de várias gerações de matosinhenses que viveram os dias gloriosos do Constantino Nery, as recordações de inesquecíveis momentos de emoção vividos na tela do cinema, assim como o desejo desta sala voltar a recuperar o seu lugar como uma das principais infra-estruturas culturais da cidade.

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